Lições de uma palestra exclusiva do PG

Ensudecedor.

Para quem tem uma audição boa, essa é a sensação de milhares pessoas batendo palmas vigorosas em um espaço que beneficia a propagação do som.

Todas de pé.

Todas.

Foi assim que Paulo Guedes(PG) foi recebido para uma palestra dada aos alunos do MBA em Investimentos e Alocação de ativos que estou cursando no momento.

Quando PG chegou ao palco, foram 2 minutos de palmas. Ininterruptos. Se você acha que é pouco fique parado por dois minutos. Sinta o que são dois minutos de palmas.

Foram finalmente interrompidas por ele mesmo que, parecia sem graça.

Usando seu terno folgado, com sua característica corcunda, Paulo Guedes começou a contar suas percepções e lições de vida.

“Pediram pra eu falar de Economia, mas falar um pouco também da minha carreira, da minha vida, então vamos lá …”

Aqui estão algumas das lições que eu tirei dessa palestra. Infelizmente com alguma sujeira das minhas interpretações.

Fazer o que gosta

PG é um defensor do “fazer o que gosta”. Primeiro é importante deixar claro: ele não foi específico sobre “trabalhar com o que gosta”, ou “fazer uma carreira com o que gosta”. E sim “fazer o que gosta”.

PG não ofereceu muita profundidade no assunto mas mostrou algumas sacadas diferentes.

Ele citou que deveríamos fazer o que gostamos para não chegarmos ao fim da vida achando que fomos enganados por ela. A pessoa vive anos, achando que um dia terá momentos de realização e prazer, e de repente se depara com a decadência do corpo e da mente sem a mística “realização pessoal”.

Ele faz o que gosta, sempre fez o que gosta, e seus planos são de fazê-lo ainda por muitos anos.

Tempo

Pelé não se tornou o melhor do mundo jogando um pouquinho de futebol 2 vezes por semana. Pelé se tornou o melhor do mundo jogando futebol o dia inteiro, todos os dias, desde muito cedo. Dificilmente você chegará a algum lugar relevante profissionalmente sem dedicar tempo ao ofício.

Conectando o assunto anterior neste, só conseguimos persistir em um ofício por algum tempo relevante, suportando as dificuldades, desilusões e barreiras impostas pelas situações e pessoas ao nosso redor quando gostamos do que fazemos.

Assim, PG explica que sua posição de destaque não se dá por uma vantagem intelectual, ou algum dom divino e nem talento. Ele simplesmente gosta de Economia. Descobriu isso cedo. E dedicou tempo.

Como gosta, conseguiu suportar dificuldades e se manter dentro do cenário, dentro do mercado, por tempo suficiente para se tornar alguma coisa.

Em um momento posterior da palestra, quando pergunta para os organizadores sobre o tempo e engaja em uma conversa com deles, solta “Isso aqui não é trabalho pra mim, se deixar eu vou embora aqui…”.

Útil e construtivo

A economia de mercado premia quem é útil e construtivo. E de acordo com PG, esse deveria ser o nosso objetivo enquanto participantes da economia de mercado. Ser úteis e construtivos.

Ele recria o pensamento proposto por liberais de que existe quase que uma força gravitacional que direciona recursos para os participantes do mercado que oferecem produtos ou serviços que possuam maior utilidade, e que sejam o mais construtivos possíveis.

Apesar de não ter definido o que é algo útil e construtivo, são termos usados frequentemente por liberais. Um exemplo é o ex-presidente do BACEN Campos Neto que em entrevista recente, quando perguntado sobre a polaridade entre Bolsonaro e Lula, disse que “precisamos ser construtivos com relação à políticas públicas e divergências”.

Na visão do PG, alguém que cria algo que as pessoas querem e usam, e que promove o melhoramento das nossas condições de vida, fatalmente atrairá capital.

Minha principal discordância aqui é o poder do marketing. O marketing é capaz de tornar algo sem utilidade e destrutivo muito mais saliente e atrativo do que algo útil e construtivo, mudando assim o fluxo de capital que seria o “””””natural”””””. Isso é pauta para outro relatório…

Imigração como motor da economia

Entrando um pouco mais na parte econômica de sua fala, PG endereçou algumas questões macro econômicas e uma delas foi a previdência. Ele ainda se orgulha bastante da sua reforma, principalmente por ter criado a margem de dispêndios que a pandemia infelizmente consumiu.

Quando tratando da previdência de um modo global, PG citou a situação de alguns dos países de forma mais específica mas destacou que existe um grande potencial na imigração. Não só do ponto de vista previdenciário mas como um motor da economia.

Aqui, faz sentido pensar no que lemos anteriormente e ver como duas ideias simples culminam em uma conclusão: se do ponto de vista liberal, o mercado premia quem faz algo útil e construtivo, e fazemos o que gostamos, mais imigrantes em um país significa maior variedade de pessoas que oferecerão suas capacidades, seus talentos de vida para um novo mercado. O mercado premiará essas pessoas e a economia do lugar como um todo cresce.

PG segue dando exemplos como no Brasil do fim do século 19, EUA pós secessão, Reino Unido, Japão e alguns países da Europa que muito se beneficiaram de movimentos migratórios.

Ciências econômicas não são ciências exatas

A partir de 1930, a tendência para trazer exatidão para movimentos econômicos se intensificou muito. A teoria dominante do mercado de capitais inclusive é que é possível calcular o risco de um investimento de forma exata. Assim como é possível considerar aspectos macro ou micro econômicos como exatos para assim podermos conjurar fórumlas e equações de aplicação a nível governamental.

PG discorda.

Ele segue por alguns minutos em se manifestar no mínimo cético que exista muita matemática em economia. Como exemplo cita o fracasso de diversas políticas de cunho econômico que foram transplantados de um país para o outro. De um povo para outro. Essas políticas esbarram na cultura, nos costumes e na percepção do povo.

Como não são exatas, as ciências econômicas não deveriam ser reduzidas a fórmulas e a simplificações inocentes.

Palavra complicada

Paulo Guedes segue intercalando eventos da sua vida com percepções econômicas do Brasil.

Em um dado momento, ele fala sobre o período quando trabalhou na fundação do Banco Pactual, quando o Brasil viveu uma inflação absurda. Guedes explica sua atuação na negociação de títulos de dívida global para o banco. Basicamente, tomava capital emprestado lá fora a juros de 10% a.a. e emprestava aqui a 30% a.a. na média.

Então, solta esta pérola, anotada por mim, suspiro por suspiro:

“Especulando… Ééé….especular é uma palavra complicada. Eu estava protegendo recursos…”

Equipe e fortalezas

Chegando ao final da palestra, PG sintetiza sua passagem pelo Ministério da Economia.

O principal assunto que ele aborda é seu recente entendimento sobre o poder de uma equipe.

Ele explica que mesmo no Banco Pactual, ou durante seus anos acadêmicos, nunca participou de uma equipe grande. Seus papéis sempre foram ou individuais ou em pequenos grupos. Enquanto Ministro, ele diz que entendeu o que significa ter uma equipe e o potencial de sua atuação.

A principal virtude da equipe é reunir pessoas com diferentes talentos e especialidades (que fazem o que gostam) para completar um projeto.

Todo projeto é uma sequência de tarefas. E o poder da equipe é reunir pessoas com os talentos naturais e as competências que as colocam em posição de vantagem para realizar as tais tarefas.

Se existe uma tarefa que você tenha que fazer mas não tem o talento para tal, chame alguém que tenha esse talento, diz PG.

Ele ainda questiona o “trabalhar nos seus defeitos”. Pra quê? Uma pessoa pode olhar para algo que para você é impossível de ser feito, e pensar “…isso não é nem trabalho para mim…”. Tercerizar seus defeitos aumenta o retorno sobre o capital investido por você em uma tarefa.

Duas horas

A lição mais importante, mais valiosa, para mim não foi algo que o Paulo Guedes falou de forma explícita.

Foi algo que percebi.

Quando subiu ao palco Paulo Guedes tinha 75 anos. E ele falou de forma segura, confiante, sem engasgos, sobre economia, migração, capital, carreira, por 2 horas.

Sem teleprompter.

Sem powerpoint.

Em pé.

2 horas.

Para milhares.

Sobre qual assunto, você tem conteúdo suficiente para falar com propriedade, citando exemplos e endereçando refutações, sem pestanejar, sem é…é….é…. por 2 horas?

Mais importante do que concordar ou discordar destas lições, é aproveitar a experiência de um senhor de 75 anos, que já viu bastante coisa na vida, e construiu uma carreira de sucesso.

Essas são as lições.

O que podemos aproveitar/ignorar delas?

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